A modelagem da informação na construção (BIM) trouxe avanços indiscutíveis para o setor. No entanto, ao longo dos anos, surgiram interpretações que podem estar afastando profissionais do foco real dessa metodologia.
Uma delas é a crescente obsessão pelos chamados “Ds” do BIM.
Se você trabalha com projetos, provavelmente já ouviu falar em 3D, 4D, 5D… até 10D. Cada letra adicionada representa uma nova camada de dados ou uma funcionalidade diferente dentro do modelo.
Mas será que essa nomenclatura ajuda de fato? Ou está virando uma distração que distancia a equipe dos resultados práticos?
Hoje, vamos analisar com profundidade por que a “contagem de dimensões” pode estar atrapalhando sua estratégia BIM — e como uma abordagem centrada em Usos BIM pode ser mais eficiente e orientada a resultados.
O que são os “Ds” do BIM?
Os “Ds” representam dimensões adicionais atribuídas ao modelo 3D, associando a ele novos tipos de informação. De forma geral, os mais aceitos são:
- 3D: a modelagem tridimensional geométrica
- 4D: tempo (cronograma da obra)
- 5D: custo (orçamento vinculado ao modelo)
- 6D: sustentabilidade (análises ambientais)
- 7D: operação e manutenção
A partir daí, surgiram outras propostas, como 8D (segurança), 9D (Lean Construction) e até 10D (industrialização). Em alguns fóruns internacionais, já se fala em 11D, 12D…
A intenção original era boa: organizar os diferentes tipos de informação vinculados ao modelo BIM. O problema é que, na prática, essa lógica virou uma corrida por etiquetas.
As armadilhas da abordagem dimensional
Embora os “Ds” tenham se tornado populares, há riscos claros em adotá-los como métrica de maturidade BIM. Vamos analisar os principais:
1. Falta de padronização global
Enquanto 4D e 5D têm aplicações mais consensuais, os demais são interpretados de forma diferente por empresas, países e plataformas. O que é 7D para uma organização pode ser 6D para outra. Não existe uma norma ISO que reconheça oficialmente todos esses níveis. O resultado? Confusão generalizada.
2. Confusão entre conceitos, aplicações e ferramentas
Muitas vezes, as chamadas dimensões misturam objetivos de projeto com tecnologias específicas. Por exemplo, associar Lean Construction ao 9D não faz sentido técnico — Lean é uma filosofia de gestão que pode ser aplicada com ou sem BIM.
O mesmo vale para sustentabilidade ou segurança. Elas são prioridades transversais, que devem estar presentes em todas as fases, não encaixadas em um rótulo dimensional.
3. Foco na forma, não na função
A consequência mais grave é desviar a atenção do que realmente importa: como o BIM está sendo aplicado para resolver problemas concretos. Já vimos equipes investirem em 7D e 8D sem dominar plenamente o 4D ou o 5D. Essa pressa por parecer “avançado” compromete a qualidade do processo.
Alternativa prática: Usos BIM em vez de “Ds”
Em vez de rotular funcionalidades como “Ds”, faz mais sentido adotar o conceito de Usos BIM.
Usos BIM são as aplicações práticas da modelagem da informação ao longo do ciclo de vida do projeto. Cada uso tem um propósito claro e está ligado a objetivos específicos — como reduzir retrabalho, melhorar a eficiência energética, ou facilitar a manutenção.
Exemplos de Usos BIM bem definidos:
- Coordenação multidisciplinar
- Análise de desempenho energético
- Planejamento da obra com simulação 4D
- Extração de quantitativos e orçamentos
- Registro e gestão de manutenções pós-obra
Essa abordagem é recomendada em guias como o Penn State BIM Execution Planning e pode ser personalizada para cada tipo de projeto, respeitando sua complexidade e estágio de maturidade.
Benefícios de abandonar o foco nos “Ds”
Adotar uma lógica baseada em usos e objetivos — e não em contagens dimensionais — traz uma série de vantagens reais para o dia a dia dos projetos:
1. Mais clareza e alinhamento entre equipes
Profissionais de diferentes áreas conseguem se comunicar com mais precisão quando falam sobre “coordenação de modelos” ou “planejamento logístico”, em vez de 6D ou 7D, que podem ter significados diferentes para cada um.
2. Implementações mais eficazes
Em vez de tentar ativar todos os “Ds” de uma só vez, sua empresa pode focar nos usos que trazem retorno imediato — e amadurecer de forma gradual.
3. Redução de custos e retrabalho
Com foco nos problemas reais a serem resolvidos, as soluções tecnológicas passam a ser mais bem aplicadas. Evita-se o desperdício com funcionalidades subutilizadas.
4. Melhor compreensão para o cliente
Clientes não técnicos entendem muito melhor o valor de um modelo que ajuda a planejar ou operar um edifício do que uma classificação como “BIM 7D”.
O papel da Coordly: menos rótulo, mais resultado
A plataforma Coordly é um ótimo exemplo de como implementar BIM de forma prática, eficiente e sem complicações dimensionais.
Como um Common Data Environment (CDE), a Coordly permite que todos os envolvidos no projeto tenham acesso às informações corretas, organizadas e rastreáveis — sem precisar de uma sopa de letras.
Veja como a Coordly viabiliza Usos BIM de forma clara:
- Coordenação de modelos: estrutura lógica de pastas e validação de entregas
- Gestão de documentos e revisões: controle de versão com histórico e permissões segmentadas
- Planejamento e controle de obra (4D): integração com cronogramas e monitoramento do avanço físico nos painéis de informação
- Controle orçamentário e quantificação: centralização de entregáveis com base em etapas e metas
- Gestão de manutenção: armazenamento de dados operacionais, manuais e protocolos para o pós-obra
Em vez de promover o uso de múltiplos “Ds”, a Coordly ajuda você a entregar projetos com mais controle, menos erros e melhor comunicação.
BIM é sobre valor, não sobre rótulos
A evolução do BIM não está na criação de novos “Ds”, mas na capacidade de aplicar a tecnologia para resolver problemas reais, otimizar processos e tomar decisões mais inteligentes.
O mais importante não é se seu projeto está no 6D, 7D ou 10D. O que realmente importa é se:
- Sua equipe consegue trabalhar de forma integrada
- Os modelos estão agregando valor na tomada de decisão
- O cliente entende o que está sendo entregue
- O projeto tem menos erros, menos retrabalho e mais eficiência
Foque em dados úteis, não sobre dimensões abstratas
Se você quer sair do discurso e ir para a prática, comece pelos Usos BIM que fazem sentido para seu projeto — e conte com ferramentas como a Coordly para garantir que tudo esteja estruturado, seguro e sob controle.